Horst BREDEKAMP (n. 1947)
Historiador da Arte, é actualmente docente da Universidade Humboldt de Berlim, membro permanente do Wissenschaftskolleg e presidente do Laboratório Interdisciplinar, Imagem, Conhecimento e Forma.
A partir de 2000 orienta um núcleo multidisciplinar que trabalha sobre a imagem técnica no campo das ciências, das tecnologias e, em especial, no domínio da medicina. Este núcleo esteve na origem do grupo que coordenou, desde 2008 com John Michael Krois (1943-2010), dedicando-se ao estudo do Acto imagético e encorporacão (Bildakt und Verkörperung).
O tema da mediação imagética tem estado no centro da sua actividade, desde a sua tese de doutoramento, e continua a informar a sua actividade enquanto historiador da arte. A esta, soma-se ainda o trabalho como co-editor de diversos estudos sobre a teoria e a história das imagens, destacando-se a co-direcção da edição crítica da obras completas de Aby Warburg. É, assim, um profundo conhecedor de Warburg e da sua herança, em particular da obra de Edgar Wind.
Não sem paralelo com Warburg, nos seus estudos abarca um vastíssimo leque de disciplinas, tais como a arqueologia, a sociologia, a filosofia, a semiologia, a iconologia e a psicologia, percorrendo de forma caleidoscópica um arco temporal que se estende desde a Pré-história até aos nossos dias. A iconoclastia, a arte do Renascimento e do Maneirismo, a iconografia política, as ciências e os seus dispositivos figurativos, a biologia e as teorias cognitivas, ou, ainda, as relações entre imagem e modelos tecnológicos, constituem vectores de investigação que desembocam em estudos centrados em objectos muito precisos com consequências vastas para a compreensão do papel da arte na história, na sociedade, nas ciências e no campo da própria historiografia.
Em 1975 publica a sua tese de doutoramento, Kunst als Medium sozialer Konflikte [A Arte como Meio do Conflito Social], elegendo como caso de estudo a «querela das imagens» no contexto da contestação teológica e ideológica do movimento Hussita no séc. XV.
Antikensehnsucht und Maschinenglauben [A Nostalgia do Antigo e o Culto da Máquina] (1993), traduzido em várias línguas, é um livro importante sobre a história das ações imaginais, que envolvem a virtualidade do movimento e das soluções mecânicas, no palco estratégico da arte, da ciência e da sociedade.
No seu estudo Thomas Hobbes visuelle Strategien, Der Leviathan [Estratégias Visuais de Thomas Hobbes, O Leviatã] (1999), questiona a importância fundamental do enigma figural do frontispício de 1660 enquanto estratégia visual de articulação entre iconografia e pensamento político. Teorias ópticas, tradições retóricas e hermenêuticas confluem deste modo para configurar um Estado-monstro que se eleva para nos dominar, ao mesmo tempo que permitem criar o retrato do filósofo moderno.
Com o livro Darwins Korallen [Os Corais de Darwin] (2005), critica o modelo da arborescência equivocamente adoptado como imagem da evolução das espécies, para reafirmar o paradigma darwiniano do coral como metáfora do desenvolvimento lacunar e anárquico.
Em Le Déclin du platonisme [O Declínio do Neo-platonismo] (2005), demonstra como no campo da interpretação das obras de arte a historiografia corrente ignora uma parte substancial de outras tradições filosóficas que foram igualmente decisivas na época do Renascimento, como o epicurismo, o aristotelismo, o hermetismo e o ocultismo. A uma visão do Renascimento puramente progressista, Bredekamp substitui uma imagem mais rizomática, ao mesmo tempo que, ao situar no plano histórico as obras clássicas da história da arte, propõe uma reflexão aprofundada sobre a constituição da própria disciplina. Neste sentido, interpreta a Idea (1924) de Panoksy e a sua concepção da iconologia como uma reacção intelectual perante o atormentado contexto sócio-político da Alemanha então em vias de expansão com o triunfo das ideologias nacionalistas e totalitárias. Assim, a iconologia panofskiana se posicionaria, segundo Bredekamp, contra uma hermenêutica anti-racionalista da imagem que ditou a cultura imagética da Alemanha na época do nacional-socialismo.
O universo da fúria iconoclasta ao longo dos séculos, a arte do Renascimento ou do Maneirismo, analisada sob o prisma da representação e da magia, ou o aparato das técnicas da maravilha, do jogo e do divertimento, onde se traçam as estratégias de poder, colocam em campo a natureza política da imagem. Para além das dimensões estéticas e políticas, através das imagens da ciência desvelam-se propósitos epistemológicos até então escassamente considerados.
Combinando a perspectiva historicista, a atenta análise de fontes documentais, a longa transformação das imagens detectável através do método comparativista, contribuições teóricas dos mais diversos âmbitos, Bredekamp aproxima-se da especificidade de objetos tão bem definidos empiricamente - desenhos, pinturas, esculturas, projetos de arquitectura ou imagens da ciência - quanto resistentes a qualquer definição categórica e definitiva.
Propiciada por uma intensa reflexão interdisciplinar desenvolvida ao longo de décadas, na Teoria do Acto Icónico (2010) ensaia-se uma fenomenologia da «imagem ativa», ou da «a imagem como ato», na esteira do speech-act de J. R. Searle ou do How to do things with words de J. L. Austin. Convocam-se as obras que desde a Antiguidade falam na primeira pessoa, como os nomes dos signatários nas imagens da Idade Média ou o jogo confuso das inscrições nos quadros do Renascimento, até à tradição das estátuas que falam, como o Pasquino em Roma ou a obra de Niki de Saint-Phalle, Tu est moi. A passagem das imagens que significam para as que atuam ou fazem constitui uma contribuição fundamental para a reflexão contemporânea sobre a potência histórica da imagem.
(JFF, VS, rMPS, rKS, rIHA)
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